À Boleia

Ia a sair de um posto de abastecimento, ali quem vai para Tramim, quando se me deparou esta senhora a pedir boleia. Parei, ela lançou-me um olhar fugaz pela janela da porta do pendura, levou a mão ao fecho da porta, entrou, sentou-se e ficou a olhar em frente. Fitei-a com um sorriso entre a diversão, a satisfação e o espanto e comecei a dizer You are ..., o que a fez olhar para a esquerda, brusca, e dizer Shut up and drive! Fiquei a olhá-la por um ou dois segundos e disse Fasten the seat belt, o que a fez franzir os lábios e colocar o cinto com um gesto brusco.

Como até sou bem mandado, dependendo de quem mande, bem entendido, conduzi. Passamos por Castrim, Rasmim, e um pouco antes de chegarmos a Parrim ela disse Pull over. A princípio julguei que se referia a uma peça de vestuário, mas dei por mim a encostar à direita, junto de uma cortada que, sei agora, leva a uma vivenda naquela zona. Ela saiu, Thanks!, bateu a porta e afastou-se do carro em direcção a um caminho de brita. Não sei por que razão, olhei para o assento do banco à minha direita, já despromovido da magnífica bunda com que até alguns segundos atrás tinha sido galardoado, e devolvendo o olhar de novo ao caminho mirei-a a afastar-se. Devo acrescentar que, por hábito, não gosto de dar boleias.