Monday, February 13, 2012

Por instinto

Ia a caminhar na rua, o olhar comutando entre uns metros de chão à minha frente e o horizonte roubado pela azáfama da cidade. De súbito senti um puxão brutal, deixei de ver e ouvir por uns segundos, e depois quase ensurdeci com o ruído de 200 mil pessoas, num estádio de futebol gigantesco. Senti-me estranho, num corpo muito mais alto que o meu, estava dentro do campo, numa das balizas. À minha frente, a onze metros de distância, estava a bola. Atrás dela um jogador preparava-se para bater um penalty.

O árbitro apitou e apoderou-se de mim um desejo imperativo de parar aquela bola, como se toda a minha vida tivesse sido uma corrida para chegar áquele momento. Voei para a direita quase antes de a bola partir, estiquei-me no ar projectando os dois metros do meu corpo durante um momento que pareceu não mais acabar, até sentir um impacto violento na mão direita, que a fez rodar em torno do pulso.

Caí em voo no chão, doeram-me as costelas, o rosto bateu no solo, indefeso,  senti a minha boca mordida por relva e terra húmida. Um 'ooooh' de frustração soltado por 200 mil gargantas reverberou então no estádio, irreal como um canto de sereia num dia de trabalho.



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